Psicogeografia/Deriva

Liberatelondon

A Psicogeografia é a união da psicologia e da geografia na avaliação do impacto emocional e comportamental do espaço. É o “estudo dos efeitos exactos do meio geográfico, conscientemente ordenado ou não, que age directamente sobre o comportamento afectivo dos indivíduos”1.

Exemplos aplicados na sociedade:

  • Pan-óptica – modelo de prisão inventado por Jeramy Bentham com o intuito de permitir a um vigilante observar todos os prisioneiros. Estruturalmente caracteriza-se por ter uma torre de vigilância no centro de um edifício com forma circular;

Panopticon

  • Truman Show – ideia Big Brother;
  • Londres – vigilância constante da cidade.

“Life can never be too disorientating”2

A Internacional Situacionista (fundada numa pequena aldeia de Itália no ano de 1957) foi uma organização revolucionaria que resultou da unificação de três agrupamentos de artistas em dissidência com a arte: o Comité Psicogeográfico de Londres, a Internacional Letrista e o Movimento por uma Bauhaus Imaginista.

Movimento radicalmente crítico dos fundamentos da sociedade de classes, o seu programa aponta para a negação do mundo actual – moderno e capitalista, não se limitando a uma critica da exterioridade estatal e económica. Pretendiam resistir ao habitual e à repetição acreditando para isso numa experimentação radical que levava ao quebrar das barreiras entre a arte e a vida. Politicamente anarquista, fundamenta-se numa parte da obra de Marx, “nomeadamente na relatividade ao feiticismo da mercadoria e à alienação central dela decorrente”3. Foi herdeiro de movimentos que anteriormente se tinha notabilizado na critica à cultura do capitalismo, tais como o surrealismo e o dadaísmo.

“They united to experiment with means of aesthetic intervention in contemporary culture with the goal of destroying the barriers between art and life”4

Os Situacionistas interessaram-se pelo conceito de psicogeografia com o intuito de cultivar uma consciência sobre a forma como a vida quotidiana é condicionada e controlada pela ideologia da sociedade de consumo. Procuravam razões para os movimentos pela cidade à excepção daqueles para que o ambiente foi projectado, mostrando o potencial da experimentação, o prazer e o jogo na vida quotidiana.

Dérive involve playful-constructive behavior and awareness of psychogeography effects”5

Guy Debord inventa o conceito de Deriva – técnica de locomoção sem um objectivo na qual, uma ou mais pessoas, durante um certo período de tempo, deixam tudo para se deixarem levar pelo terreno da cidade. Fazia-se em jornadas entre o nascer e o pôr do sol, sendo que o caminhante escolhia o direcção a tomar sempre com o intuito de conhecer melhor o lugar e de no fim criar o seu mapa individual da cidade.

O termo vem do vocabulário náutico e militar, designando um tipo de “acção calculada, determinada pela ausência de um locus próprio”6.

NOTAS:

1 – I. S. nº1, Junho de 1958 in Internacional Situacionista – Antologia, Antígona, 1997.

2 – DEBORD, Guy – Introduction à une Critique de la Géographie Urbaine, 1955

3 – Internacional Situacionista – Antologia, Antígona, 1997.

4 – http://library.nothingness.org/articles/SI/en/display/238

5 – DEBORD, Guy – Théorie de la Dérive, 1958

6 – http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq027/arq027_02.asp

Exemplos de Artistas Contemporâneos (apresentados por mim):

Gabriel Orozco, Yielding Stone (Piedra que Cede), 1992.

O trabalho consiste numa grande bola de plasticina que foi rolada pelas ruas da cidade e que pelo caminho foi aglomerando o lixo que se encontrava no chão.

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Francis Alys, Paradox of Praxis (Sometimes Making Something Leads to Nothing), 1997

Um cubo gigante de gelo que foi passeado pela cidade até desaparecer, derreter por completo.

Ironia do título – “Sometimes Making Something Leads to Nothing”

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Jorge Macchi, Distrito, 2003

É colocado um vidro cheio de fissuras sobre o mapa da cidade de Buenos Aires. Essas fissuras indicam o caminho a percorrer na metropole pelo artista. Ao efectuar esses caminhos, Jorge Maccho vai recolhendo materiais, objectos do chão, fazendo gravanções de som, registando em vídeo ou tirando fotografias. Ao mostrar a obra, o artista desenha o seu mapa individual do espaço e completa-o com o que foi recolhendo na cidade.

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Stanley Brouwn, This Way Brouwn, 1961

Pedia informações sobre como ir para determinado local e guarda os desenhos que as pessoas faziam para o ajudar – funcionam como novos mapas da cidade.

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Dziga Vertov, The Man With the Movie Camera, 1929

O filme enquanto resultado final, graças à montagem realizada pelo autor, dá-nos a sensação de ter sido filmado enquando o artista vai deambulando pela cidade, assistindo ao seu ritmo e dinâmica frenéticos, sempre acompanhada pela câmara, filmando aleatoriamente.

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Andy Warhol, Empire, 1964

So in the late 50s I started an affair with my television which has been continued to the present, when I play around in my bedroom with as many as four at time. But I didn’t get married until 1964 when I got my first tape recorder. My wife. My tape recorder and I have been married for ten years now. When I say “we”, I mean my tape recorder and me. A lot of people don’t understand that. in The Philosophy of Andy Warhol by Andy Warhol.

Necessidade voyerista (saber mais) de registar e possuir tudo ao seu redor.

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