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Mar.05
UTOPIA
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Classicamente as ideias de utopias têm sido imaginadas como ilhas, enclaves ou colónias: espaços delimitados mas que têm a particularidade de ser exteriores. O que fazer em época de interioridade compulsiva? Parece ser já um lugar comum a ideia pragmática e aparentemente distópica de que nada é possível fazer. Dizia-nos Jean François Lyotard, há já uns anos atrás, que o capitalismo não era introdutível no seu esquema de falência das grandes narrativas exactamente por se apresentar como algo inerente à condição humana. As situações entretanto criadas puderam ser testemunhas de um fechamento evolutivo potenciado pela sua paradoxal expansibilidade. O prognóstico marxista de que o capital entraria em crise quando se deparasse com a sua impossibilidade expansiva aí está para o provar.
Pareciam ter passado os dias das convulsões sociais, dos antagonismos violentos, Fukuyama vaticinou o final da História. Mas cedo se arrependeu. Os acontecimentos recentes fundaram uma nova fase que se caracteriza por um realinhamento estratégico das variadas oposições em jogo. Uma coisa é, contudo, certa: a modernidade constitui-se, como afirma o sociólogo polaco Bauman, como fundamentalmente líquida, isto é, não adaptável a esquemas rígidos de pensamento ideológico e, pelo contrário, de uma grande permeabilidade a todas as estruturas de penetração, agora, endógenas. A crise do capitalismo tardio manifesta-se nesta falta de se manifestar. Aparentemente as questões são sempre outras.
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