Na cibersala de aula sem paredes da aldeia

(arte, utopia, cultura digital)

Sérgio Roclaw Basbaum*







b #10
Jul.04



 

Questões são inquietações. Após ler o texto abaixo, você terá a oportunidade de participar de um experimento de e-learning sobre a cibercultura contemporânea. 
  

A MULA, A CENOURA, O COSMOFÁGICO, A ARTE

 

para Marshall McLuhan, Glauber Rocha e Steve Kurtz

 

Lavrar, plantar, colher: o processo do pensamento.

Extensão cosmofágica do nosso sistema nervoso, o computador engole vorazmente o universo através de uma estratégia algorítmica e atomista, vomitando um caos de signos digitais multiplicados exponencialmente.

Todo mundo já conhece a metáfora da prótese: Tecnologias são extensões de nossos corpos.

Em que termos? McLuhan:

"(...) The greek  myth of Narcissus is directly concerned with the fact of human experience, as the word Narcissus indicates. It is from the the Greek world narcosis, or numbness. The youth Narcissus mistook his own reflection for another person. This extension of himself by mirror numbed his perceptions until he became the servomechanism of his own extended or repeated image. The Nymph Eco tried to win his love with fragments of his own speech, but in vain. He was numb. He had adapted to his extension of himself and had become a closed system.(...)" (Understanding Media[1])

Instrução: dispositivos narcoprotéticos devem ser convertidos em anarcoprotéticos.

 

O causo é conhecido: a mula deve andar, empaca. Coloca-se uma cenora numa vara, coloca-se a vara no seu lombo, de modo que a cenora permaneça algo como talvez uns 15 cm. à frente de seus olhos; deixa-se que a mula tenha fome; ela perseguirá a cenoura, que se move  sempre um palmo à frente.

Instrução: incorpore a seu imaginário artístico a metáfora da cenoura. Faça com que a mula cosmofágica a persiga.

 

O causo sugere que a arte é a cenoura; a mula, o cosmófago incansável que a persegue, e não poderá tê-la: não a deixemos ser devorada (objetificada).  

 

Só a poesia possui as coisas vivas. O resto é necropsia (Mario Quintana[2])

 

O que é a arte então?

Arte é o que torna visível.

[Ou, para sairmos deste ocularcentrismo:

Arte é o que revela como experiência]

 

Duchamp X Eisenstein:

Godard & Gorin (Vent D´Est, 1969) acusam Eisenstein de ter sido um agente simbólico do stalinismo - ter, em suma, servido ao grande dispositivo de representação: por um lado Potemkin o levou a Hollywood, e, por outro, Goebells teria solicitado aos cineastas alemães que produzissem um Potemkin do Nacional-Socialismo. O fato de um filme gerado sob as bençãos do stalinismo poder prestar-se ao simbólico nazista é fácil de compreender, e mostra a que ponto os fascismos eram todos o mesmo: instalação de um mundo a partir de um projeto de controle e eficiência totalitárias. Mais ainda isto se torna claro - que o filme produza um imaginário de espetáculo e da massa como máquina apropriável, adaptável à lógica simbólica de quaisquer fascismos - quando se imagina a contraface de tal apropriação simbólica: pode-se imaginar Stalin solicitando aos artistas soviéticos que lhe dessem o seu urinol?

 

mulo: Animal mamífero, da ordem dos perissodáctilos, resultante do cruzamento de jumento com égua, ou de cavalo com jumenta. É pois animal híbrido, estéril, do mesmo gênero de Equus, i.e. , do cavalo. (Buarque de Holanda, 1986: 1169)

mula: a fêmea do mulo. (idem: 1168)

mula-sem-cabeça: conforme crendice popular brasileira, concubina de padre que, metamorfoseada em mula, sai, certas noites, cumprindo seu fadário, a correr desabaladamente ao fúnebre tilitar de cadeias que arrasta, amedrontando os supersticiosos. (ibidem:1168)

A mula é linda. É híbrida. Às vezes, não tem cabeça e é objeto de superstição. É uma metáfora zoológica e low-tech. A mula é útil, desempenha muitas tarefas difíceis, mas as vezes empaca; a mula é estéril: quando fica velha, só pode ser substituída por outra mula mais nova. O seu PC não emula: é mula. 


O digital é o dispositivo cosmofágico: engole tudo o que é linguagem e vomita um caos de signos multiplicados.

Para tornar qualquer coisa digital:

1) objetifique (reduza à linguagem);

2) reduza a linguagem a pedaços;

3) reduza os pedaços a mini-pedaços: bits (estratégia atomista);

4) organize os pedaços em bancos de dados;

5) reduza processos (verbos) a algoritmos;

 

Tudo que é mundo ordenado é cosmos. Só é cosmos o que pode ser linguagem. Se pode ser linguagem, pode ser programado.  O dispositivo cosmofágico é insaciável: tem um apetite de leão e não arrota (às vezes trava).

 

E não faz diferença. Conhecer ou não conhecer a ordem do código é a mesma coisa: ele a impõe a você, mesmo se você for um programador.


A INUNDAÇÃO DE IMAGENS TÉCNICAS: o caos exponencialmente multiplicado. Entropia informacional irreversível. As não utopias da produção compulsiva e da sensação vazia (Erik Davis. Techgnosis)[3].

 

ALL SCIENCE IS COMPUTER SCIENCE[4]

 

D´A filosofia da vida artificial[5]:

 

"(...)Animats are artificial animals or, to give an alternative definition, artificial autonomous agents. The class of such systems includes autonomous robots with actual sensory-motor mechanisms, and simulated environments. (...)"[6]

 

Instrução: Não se deixe enganar. Pode parecer, mas não se trata de uma descrição da vida nas metrópoles.

 

 

Como ficou chato ser pós-moderno. Agora serei pós-eterno.

 

 

Pós_tudo (Augusto de Campos)

: agora, pós-tudo, ex-tudo[7].

 

Pós_humano

: a aventura humana chegou ao fim e foi reciclada em corpos projetados em laboratórios: eficazes,  velozes, gostosos, produtivos, perfeitos.

 

Pós_histórico (Vilém Flusser[8])

: Somente a escrita nos legou um mundo governável. Ordenou imagens, criou sentido histórico, e nos fez acreditar que éramos uma atualização de um passado. A fotografia nos fez crer que éramos uma foto revelada, e nos jogou no abismo do instante. Fim da história.

 

Pós_moderno (Jean-François Lyotard[9])

: A modernidade viveu num sentido narrativo de progresso e evolução que prometeu utopias mas não as entregou. Iluminismo, capitalismo, marxismo, darwinismo, positivismo, as narrativas modernas nos legaram somente sua projeção no eixo sincrônico estruturalista.

 

Pós_estruturalismo (Deleuze; Derrida)

: temos algo em comum, habitamos um tempo. Fora isso, há que se desmontar tudo sobre o que se sustenta a possibilidade de poder: linguagem.

 

Pós_industrial (Daniel Bell[10])

: todo o processo produtivo se sustenta em bases não materiais. Força de trabalho robótica, administração por rede, commodities.

 

           

Sem ir além da nossa porta

Podemos conhecer o mundo

Sem assomarmos à nossa janela

Podemos conhecer os caminhos do céu

Quanto mais longe vamos

Tanto menos avançamos

Por isso, o Sábio

Sem caminhar, alcança sua meta

Sem ver, tudo observa

Sem agir, tudo realiza

 

Lao-Tsé, Tao-te-king[11]

 

           Jamais se poderia imaginar o significado que esse texto assume no contexto do mundo contemporâneo. A tecnologia ocidental inverteu de tal modo as significações do mundo que mesmo o acordamento taiosta se converte num ócio de apartamento, em contas pagas por homebanking, na ilusão de ser o próprio panóptico, num deixar que o grande aparelho realize o mundo por si. Toda a aventura humana pode ser pensada como preenchimento poético do desejo de(s)significado. Trata-se então, não de negar o desejo, mas de dar a ele um sentido: significá-lo. Porque? Porque há o afeto. O afeto, o espírito e o nada. E nos vemos no mundo contemporâneo. Tecnologicamente expandidos e tecnologicamente sitiados. Isto é: em rede.


           toda estética funda uma ética (Peirce).

           

toda ética é um projeto de mundo: uma utopia

toda obra de arte afirma uma estética

toda obra de arte pode fundar uma estética

toda obra de arte implica numa utopia

Corolário: toda obra de arte tem responsabilidade utópica

 

Então

O QUE NÓS TEMOS QUE FAZER É PARAR DE VIVER NA RESSACA HISTORICISTA DO PÓS_HISTÓRICO, PÓS_HUMANO, PÓS-MODERNO, PÓS-INDUSTRIAL, PÓS_TUDO, E PASSARMOS A VIVER O PORRE UTOPISTA DO PRÉ QUALQUER OUTRA COISA QUE SEJAMOS CAPAZES DE CONCEBER - DE PREFERÊNCIA A PARTIR DO PRESENTE POÉTICO.

 

Ressaca: eu sou você amanhã, um remédio amargo para a ilusão desmedida.

 

Porre: êxtase infinito enquanto dura.

 

globalstrike.net

 

Não nos afastemos muito

Vamos de mãos dadas (Carlos Drummond de Andrade[12])

 

O que faremos então? Que tal uma greve global? Articulada via internet, via email fwd, sem líderes. A idéia é mostrar que há um volume razoável de pessoas no planeta interessadas em questionar o mundo tal qual se está instalando (e não em parar para comer chocolates, como diz hoje um outdoor espalhado em São Paulo). Burocracia digital, controle, vigilância, compulsão produtiva, concentração abusiva de renda, realidade nas mãos de corporações, culto à eficiência, à precisão, ao tecnológico, desrespeito ao espaço público, esvaziamento do significado existencial do êxtase sinestésico em tecnotranse, institucionalização corporativa da arte por via do impacto de marketing da tecnologia, que vai por si etc... Marcaremos um horário: no dia tal, em tal horário, pararemos todos por cinco minutos. Isto não deverá comprometer nossas vidas por um fio - nossos projetos, nossos empregos, nossos compromissos, o assédio moral do sistema sobre todo mundo. Mas nos daremos cinco minutos de liberdade. Para voltarmos a acreditar na liberdade, juntos. Então, enviamos para um site vídeos, relatos, imagens, descrições destes cinco minutos, tal qual vividos pelos grevistas em quaisquer lugares do planeta.  Depois, marcaremos outros cinco minutos. E quem sabe depois dez.... Quando completarmos uma hora, estaremos na mira do FBI. 

 

você gostaria de participar de um evento como esse? mande um email para utopiapoetica@globalstrike.net

 

S.B. sergio@that.com.br







AGORA, TESTE SEUS CONHECIMENTOS!

 

Benjamin[13] dizia que a câmera de cinema transformava o ser humano em objeto, e o submetia a um teste, em que os vencedores são a estrela de cinema e o ditador. O computador também nos submete a um teste. Neste caso, quem é o vencedor? A máquina de Turing[14].

 

Mas, agora que você já está informado dos ciberparadoxos do absoluto presente, seria capaz de responder às questões abaixo? 

 

LEIA ATENTAMENTE AS QUESTÕES A SEGUIR E ESCOLHA APENAS UMA DAS ALTERNATIVAS EM CADA UMA DELAS:

 


1.

 

Pode-se, numa atitude intelectual honesta, não distinguir humano e maquínico?  É possível, a despeito das proposições da AI e da A-Life[15], realmente crer numa espécie de mistura das tintas consumada a um extremo em que se não perceba mais a distinção identitária entre o homem e suas extensões, entre criador e criatura, entre Narciso e sua imagem?

 

ALTERNATIVAS

a) pode-se, desde que não haja mais nenhuma referência

b) pode-se, desde que não haja mais lembrança

c) pode-se, desde que não haja mais passado

d) pode-se, desde que não haja mais verdade

e) não há diferença: as alternativas anteriores são fatos consumados 




2 e 3.

 

LEIA O TEXTO ABAIXO:

Flusser (Lingua e realidade[16]) e Merleau-Ponty (O olho e o espírito[17]) parecem escrever num tempo em que tal distinção era ainda legítima (havia referência, lembrança, passado, verdade) ao passo que, no mundo em que escrevo estas linhas, parecem propagar-se viroticamente, epidemicamente, maneiras de se afirmar a entropia: que a identidade entre o humano e seu reflexo maquínico esteja consumada - que não há mais das cores originais, resta apenas uma nova tonalidade, uma nova totalidade em que das singularidades originais não há sequer ruína.

 

Tal pressão sente-se no ar: que não se pense esta memória tênue de uma diferença, que não se exerça aquilo que seria então uma espécie de nostalgia de um paraíso perdido (mas, então, quantas vezes, de quantos paraísos nos expulsaremos por romper um contrato de identidade com o universo?) em face do presente que, afinal, não pede licença e vai logo sentando-se no sofá e de forma geral ocupando toda a casa - derrubando paredes, fazendo reformas, instalando novos aparelhos.

 

Como se dá isto? Como se dá que um "autêntico" (a pergunta pela distinção) torne-se "quixotesco" (uma pergunta que sequer cabe mais)?

 

ALTERNATIVAS

a) A questão não faz sentido: "autêntico" é uma palavra vazia  (inobjetificável).

b) A questão não faz sentido: "quixotesco" é uma metáfora moderna, literária, narrativa, definindo portanto um significado incompatível com a realidade contemporânea, imersa num presente tecnológico, cujo projeto implícito é fazer do planeta um enorme laboratório de vidas artificiais.

c) A questão não faz sentido: o autor da questão é um romântico.

d) A questão não faz sentido: o mundo apresentado não encontra lastro na experiência em curso.

e) A questão não faz sentido: o autor está fazendo bioterrorismo.





LEIA O TEXTO ABAIXO

Poder-se-ia retomar Flusser, e dizer que isto se dá pela participação destas novas máquinas na conversa, e vale atentar: ao participar da conversa, o maquínico reafirma, reitera, multiplica um sempre-o-mesmo (the medium is the message), se instala viroticamente, clandestinamente (like the piece of meat carried by the burglar), se replica, informa a conversa inautêntica, fiada, e sitia (to distract the watchdog of mind[18]) qualquer Outro, finito, que por ventura haja.

Há continuidade entre os níveis da conversação: aqueles que participam da conversação  formaram-se na conversa. Reelaboram a primeira, afinal, nos termos da última.

     

O que está descrito acima é:

a) conversa fiada.

b) uma liquidação do dizer, que, uma vez dependente da mediação, é sempre-o-mesmo.

c) uma liquidação da possibilidade do dizer, da mera presença de um território da cultura onde se possa exercê-lo, manifestá-lo, já que, uma vez dependente da mediação, é sempre-o-mesmo.

d) uma liquidação geral da tradição, em termos benjaminianos, já que, uma vez dependente da mediação, torna-se o sempre-o-mesmo.

e) impossível responder à questão sem ter lido Língua e realidade e só artistas lêem esses livros.

 


4.

 

LEIA O TEXTO ABAIXO

Do urinol  de Duchamp à oak-tree  de Craig Martin, a visão teleológica de uma narrativa ocidental foi sepultada. O presente tornou-se absoluto, o mundo uma aldeia conectada pelo instante, e a arte instaurou um tão vasto campo de possíveis que já não há mais como agredir qualquer noção do passado em nome de uma força expressiva. Pode-se, sim, habitar um território conquistado, que traz em si marcas da história que a constituiu. Muito da produção contemporânea  realizada em suportes tecnológicos sustenta-se na idéia de novo - idéia fundada em tal teleologia narrativa e na lógica das vanguardas. Habita, no entanto, um mundo de possibilidades já de muito inauguradas, cujas marcas históricas é próprio da tecnologia (liquidação geral) procurar apagar.



Pode-se, então, falar em "vanguarda"?

ALTERNATIVAS

a) mais adequado é falar-se em estampa e articulações do aparelho.

b) nestas condições, a arte só pode existir como jogo: o modo cínico de participar do real instalado, estando consciente dos riscos implicados na máquina-linguagem.

c) mais adequado é falar na urgência de modos de experiência não apropriáveis.

d) mais adequado é ler Fernando Pessoa.

e) Todas as alternativas estão corretas.

 


5.



É preciso lembrar - e basta olhar para os matches de Kasparov para nos darmos conta disso: o ser humano se exaure, ainda que se reinvente nesse fluxo que é, ao passo que a máquina pode, apenas, ser desligada. No entanto, no presente contexto das lutas simbólicas e de poder planetárias, quem ousará desligá-las?

 

ALTERNATIVAS:

a) eu.

b) você.

c) nem eu nem você.

d) eu, depois que ler os meus emails.

e) somente outras máquinas, que as tornam obsoletas por realizarem melhor a utopia maquínica. (que se contrapõe à utopia poética).

 


 6.



Pode-se, honestamente, falar em Arte descrevendo um conjunto de condições de valor? (e/ou um conjunto de procedimentos daí derivados?) - por exemplo: a noção de "belo", ou a de "não-linearidade", ou a de "suporte"?

 

ALTERNATIVAS

a) não

b) non

c) no

d) nein

e) todas as anteriores




7.



Pode-se, honestamente, discutir tecnologia imaginando que se possa negá-la? Ou que se possa imaginar quaisquer mundos a partir desse que a história moderna nos entregou e de que buscamos ser, de algum modo, agentes - em que buscamos ser, de algum modo, livres -, mundos que operem alheios ao aparato tecnológico instalado? À burocracia digital que nos açoita dia-e-noite com seus formulários e demandas?

 

ALTERNATIVAS

não há alternativas





8.

 

Pode-se, ao mesmo tempo, pensar, honestamente, a tecnologia como mero instrumento, vazio de significado, cujos usos (e apenas esses), decididos pelo livre e soberano arbítrio humanos, seriam a gênese de seus significados?

 

ALTERNATIVAS

a) espere um pouquinho: vou mandar um email a um colega perguntando sobre isso.

b) a cultura é um ambiente invisível.

c) espere um segundo: vou perguntar a um colega pelo icq.

d) a cultura é um ambiente invisível

e) espere um pouco: vou pesquisar na web.

 



9.



Pode-se negar a ostensiva presença da mediação tecnológica em todas as instâncias da experiência cotidiana - da conversa fiada à metafísica, da diversão ao núcleo do poder político e militar planetário?


ALTERNATIVAS

a) estou pensando mais é em comprar um monitor tela-plana.

b) gostaria muito de hackear o Pentágono, mas estou viciado na nova versão de Quake.

c) nunca mais vou assistir TV: agora só uso a internet.

d) agora não posso: estou lendo The Joy of Cybersex: a guide for creative lovers, de Deb Levine.

e) desculpe, preciso sair: estão clonando meu cartão de crédito.

 


10.



Pode-se, honestamente, acreditar que, após a internet, somos os mesmos?

 

Questão dissertativa, para que todo mundo acerte. Também não tem (outra) alternativa.

 


11.



É possível logar-se duas vezes na mesma rede?

 


 

Sérgio Basbaum, São Paulo, Julho 2004

 

 

E não esquecer: no complexo sistêmico mula-cenoura, a Arte deve ser a cenoura, ou estaremos entregues ao tecnocosmos da sensibilidade tecnificada e da ordem do controle instalada.

 

E não vulgarize a cenoura: ela é mais do que simples fast-food para Bunny.

 

 

  





Notas
[1] McLuhan, Marshall: Understanding Media (1964-2001:41). Décio Pignatari traduziu assim: "O mito grego de Narciso está diretamente ligado a um fato da experiência humana, como a própria palavra Narciso indica. Ela vem da palavra grega narcosis, entorpecimento. O jovem Narciso tomou seu próprio reflexo na água por outra pessoa. A extensão de si mesmo pelo espelho embotou suas percepções até que ele se tornou o servomecanismo de sua própria imagem prolongada ou refletida. A ninfa Eco tentou conquistar seu amor por meio de fragmentos de sua própria fala, mas em vão. Ele estava sonado. Havia-se adaptado à extensão de si mesmo e tornara-se um sistema fechado" (McLuhan, M: 1969)

[2] Esta frase pode ser encontrada em muitos endereços na internet. Agradeço à aluna Letícia Ferreira da Silva tê-la citado num trabalho da disciplina Sistemas Hipermídia II, lecionada por mim no curso de Tecnologia e Mídias Digitais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

[3] Davis, Erik: 1998. "(...) regardless of  whatever psychospiritual phenomena they help trigger, consciousness gear like MindsEye Synergizers, neurosonic tapes, and polysynch MindLab light-and-sound machines amplify two questionable trends that already dominate the information age: an escapist desire for vivid and entertaining trances, and an utilitarian desire to reorganize the self according to the productive and efficient logic of the machine". Em especial sobre o caráter experiencial dos "entertaining trances" descritos por Davis, ver o meu Sinestesia, arte e tecnologia (2002). 

[4] Johnson, George.(2001).

[5] Boden, Margaret (Ed.): The Philosophy of artificia life. Oxford University Press, 1996.

[6] Wheeler, Michael (1996: 210).

[7] Desde que, naturalmente, a poesia concreta esteja na frente de tudo, como conclusão de toda a história possível.

[8] Flusser, Vilém: Pós história - vinte instantâneaos e um modo de usar. São Paulo, 1983.

[9] Lyotard, J.F: The post modern condition. Manchester, 1984. (citado em Gere, 2002).

[10] Bell, Daniel: The coming of the post-industrial society: a venture in social forecasting. New York, 1973. (citado em Gere, Charlie: Digital Culture, 2002).

[11] Lao-Tsé (ou será Tsé, Lao? Como se cita um autor chinês?): Tao te king - O livro do sentido e da vida. (tradução de Humberto de Paula Lima). São Paulo, Hemus (sem data).

[12] Drummond de Andrade, Carlos: Antologia Poética (1983: 108): "Mãos Dadas: Não serei o poeta de um mundo caduco./ Também não cantarei o mundo futuro./ Estou preso à vida e olho meus companheiros./ Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças./ Entre eles, considero a enorme realidade. / O presente é tão grande, não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas./  / Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,/ não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,/ não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,/ não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins./ O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente." (Agradeço a Carlos Carvalho a lembrança desse poema, que reencontrei por acaso, no mesmo dia de nossa conversa).    

[13] Benjamin, Walter: A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. (1935-1982) Esse artigo, o leitor deve saber, é um dos mais citados na literatura de comunicação, cultura e artes, e é de uma síntese visionária que se renova a cada releitura. Nele estão contidos em germe linhas mestras das teses de McLuhan e Flusser, por exemplo, sobre o impacto da tecnologia na percepção e na cultura como um todo.

[14] Alan Turing, matemático inglês responsável por trabalhos de enorme importância na origem da computação moderna ao propor, em 1930, em "On computable numbers with application to the Entscheidungsproblem", uma máquina universal através da qual qualquer problema matemático proposto de modo adequado poderia ser resolvido, embora certos problemas matemáticos fossem provados insolúveis através desses processos. Para uma exposição sintética da significação da obra de Turing, ver, por exemplo, Gere (2002).

[15] Artificial Inteligency e Artificial Life.  

[16] Flusser, Vilém: Língua e realidade. São Paulo, Herder, 1983. Este livro acaba de ser relançado no Brasil pela Annablume Editora, em São Paulo.

[17] Merleau-Ponty, Maurice: Os pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1985.

[18] McLuhan: Understanding Media:"(...) For the 'content' of a medium is just like the juicy piece of meat carried by the burglar to distract the watch-dog of the mind."(2001: 18). traduzindo: o conteúdo de um meio é como o pedaço de carne que o ladrão leva para distrair o cão-de-guarda da mente (tradução minha). 



Referências bibliográficas

Basbaum, Sérgio: Sinestesia, arte e tecnologia - fundamentos da cromossonia. São Paulo, Annablume/FAPESP, 2002. 

Bell, Daniel: The coming of the post-industrial society: a venture in social forecasting. New York, 1973.

Benjamin, Walter: A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. (Tradução de Carlos Nelson Coutinho). In Costa-Lima (1982).

Boden, Margaret (Ed.): The Philosophy of artificia life. Oxford University Press, 1996.

Buarque de Holanda, Aurélio: Novo dicionário Aurélio da lingua portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1987.  

Costa-Lima, Luis (org.): Teoria da cultura de massa. (1a ed. 1969) Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.  

Davis, Erik: Techgnosis. New York, Harmony Books, 1998.

Drummond de Andrade, Carlos: Antologia Poética. (1962) Rio de Janeiro, José Olympio, 1983.

Flusser, Vilém: Língua e realidade. São Paulo, Herder, 1983.

_: Pós história - vinte instantâneaos e um modo de usar. São Paulo, Duas Cidades, 1983.

Gere, Charlie: Digital Culture. London, Reaktion Books, 2002.

Johnson, George: All science is computer science. (2001) http://www.cs.dartmouth.edu/~brd/NYT/All-science/all-science.html.

Lao-Tsé (ou será Tsé, Lao? Como se cita um autor chinês?): Tao te king - O livro do sentido e da vida. São Paulo, Hemus (sem data). (tradução de Humberto de Paula Lima).

Lyotard, J.F: The post modern condition. Manchester, 1984.

McLuhan, Marshall: Understanding Media. (1a ed. 1964). MIT Press, 2001.

_: Os meios de comunicação como extensão do homem. (1a ed. 1969) São Paulo, Cultrix, 1998 (tradução de Décio Pignatari).  

Merleau-Ponty, Maurice: Os pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1985.

Turing, Alan: On computable numbers with application to the Entscheidungsproblem, 1930.

Wheeler, Michael:  From Robots to Rothko. in Bolden (1996). 



Sérgio Roclaw Basbaum nasceu em São Paulo em 1964. É músico, bacharel em cinema (ECA-USP) e mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP). É autor de "Sinestesia, arte e tecnologia - fundamentos da cromossonia" (Annablume/FAPESP, 2002) e do álbum "Capitao Nemo no forró de todos os santos" (Mix-House, 1999). Atualmente, trabalha em tese de doutoramento em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), abordando as relações entre arte, tecnologia e percepção. É professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lecionando
nos cursos de Tecnologia e Mídias Digitais, Comunicação em Artes do Corpo e Comunicação e Multimeios, e é membro do NuPH - Núcleo de Pesquisa em Hipermídia, na mesma universidade.


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